“Ficas fiel depositário deste isqueiro e quero que daqui a seis meses mo tragas de volta.” E o isqueiro a gasolina, com o escudo dos Comandos gravado na tampa, passou da mão do antigo sargento-comando Venâncio para as mãos do capitão-comando Grilo.
Um gesto simbólico de confiança, entre um veterano condecorado com Cruzes de Guerra e Mérito Militar e o oficial que comandou o grupo de 112 comandos e pára-quedistas que ontem partiu para o Afeganistão, bem como dois controladores aéreos da Força Aérea.
A aerogare do Aérodromo Militar n.º 1, no Figo Maduro, Lisboa, foi pequena para as centenas de familiares que se despediram dos soldados portugueses que integram duas companhias da Brigada de Reacção Rápida destacadas para render o 1.º Batalhão Pára-quedista, em Kandahar, no Afeganistão.
A Associação de Comandos também se fez representar com uma delegação de veteranos que desta forma apoiou os jovens soldados.
Ao longo da tarde, as horas decorriam com o crescendo do nervosismo dos parentes, enquanto os Comandos escondiam os seus sentimentos num ambiente de descontracção à espera do embarque no avião fretado à companhia low cost Grijet.
Depois do chek-in e à ordem de embarque, a emoção cresceu numa onda súbita, num último abraço, num último beijo.
As lágrimas nos olhos dos que ficaram.
E a angústia de um furriel, último a embarcar, que até mais não poder esperou a chegada da filha, presa algures no trânsito. “
Paciência. Tenho de ir”, murmurou com um último olhar para a porta ao fundo da sala antes de passar a porta para o exterior, em direcção ao embarque.
Numa breve cerimónia presidida pelo major general Quesada Pastor, do Comando Operacional do Exército, este oficial reafirmou a confiança e esperança nos nossos militares.
A força portuguesa agora no Afeganistão é comandada pelo tenente-coronel Pipa Amorim, que já se encontra naquele país asiático com 35 militares.
Durante seis meses, os nossos compatriotas integram a ISAF.
Ao todo são 150 elementos do Exército e sete da Força Aérea.
Paralelamente, cinco oficiais portugueses estão destacados no quartel-general da ISAF.
TESTEMUNHOS NA HORA DA PARTIDA"VALORES NACIONAIS E DOS COMANDOS" Capitão Grilo Comandante do grupo“O Afeganistão é um cenário que em termos de segurança e de aplicabilidade da força nada tem que ver com o Kosovo, a Bósnia ou Timor, onde estive anteriormente. Mas esta força está preparada e ciente das dificuldades que vai encontrar. E está preparada para respeitar e viver os altos valores nacionais dos Comandos.”"
VINTE E CINCO ANOS DE EXPERIÊNCIA" Sarg. Ajd. Bom. Adjunto de Comando“A classe dos sargentos é a ligação entre os praças e o comando. A falta de experiência em missões deste tipo é substituída pelos 25 anos de serviço efectivo, uma experiência importante para saber dar uma palavra de alento e estar junto dos soldados quando precisam de desabafar, sobretudo quando estão longe das famílias.”"
UMA MISSÃO PARA CUMPRIR ATÉ AO FIM" Webana Francisco Soldado“Voltar ao Afeganistão é uma missão para cumprir até ao fim. Espero encontrar antigos companheiros que estiveram comigo da primeira vez e neste entretanto temos mantido o contacto pela internet. É um país onde se tem de andar sempre com cuidado, mesmo dentro do acantonamento militar. Volto porque é o que o meu coração manda.”
ACÇÕES FORA DE CABUL
Os Comandos vão actuar mais vezes fora de Cabul, integrados na ampliação da acção da ISAF
GRADUADO EM MAJOR
O capitão Grilo teve a surpresa de ser graduado em major imediatamente antes de embarcar
APOIO ESPIRITUAL
O contigente português é acompanhado pelo capelão Teixeira que lhe presta apoio espiritual
Falcão-Machado In "Correio da Manhã"